28 de nov. de 2010

Deus vem comer noz de cola!

 Cola acuminata, noz-de-cola

Entre os ibos, povo do sudeste da Nigéria, a noz de cola tem um grande valor simbólico e religioso.. Em razão disso, come-se noz de cola nos acontecimentos importantes da vida social e privada.

As palavras dum ancião da aldeia Ibo, no sueste da Nigéria, revelam o significado da festa onde se come a noz de cola: «A cola é um símbolo de unidade entre os homens. A noz de cola é um símbolo de unidade entre os homens e Deus. A noz de cola representa a vida, por isso, é oferecida na oração e nos ritos que celebram a alegria de viver, o amor, a paz, a mútua compreensão. Come-se a noz de cola quando nasce uma criança, quando se celebra um casamento, quando morre um parente, quando o novo chefe é investido no poder, quando nos reconciliamos depois de travar uma guerra, quando se sela uma nova amizade, etc., etc…»
Os ibos começam cada dia louvando a Deus e consumindo noz de cola. O ancião só deseja os bons-dias depois de uma pequena cerimónia familiar, o Ikpa nzu e iwa oji (salpicar com pó de gesso e partir as nozes de cola).

Toda a família se senta no chão. O ancião, igualmente sentado no solo, estende as pernas e coloca no centro o ofo familiar (bastão sagrado, símbolo de unidade com os antepassados), algumas nozes de cola, o gesso em pó e uma vasilha com água fresca. Parte as nozes e mastiga um pedaço. Depois, cospe uma parte dele sobre o ofo e outra para o ar, destinada aos espíritos invisíveis. Por fim, enxagua a boca e deita fora a água com força.
Terminado este ritual, reza em voz alta: «Que o novo dia afaste o mal! Deus, vem comer noz de cola! Terra, vem comer noz de cola! Antepassados e espíritos, vinde comer noz de cola! Fazei que aconteça o bem, nunca o mal! Quem tem noz de cola, tem vida! A minha vida é a vida da minha família.»

A intercessão
Depois da invocação, e sempre em voz alta, o ancião faz uma oração de intercessão. Declara a sua inocência e pede a protecção divina. Diz: «Deus, parte estas nozes por mim, porque eu não sei o que dizer. Deus, te peço, não me dês a morte, porque sou ainda uma criança. Que, onde quer que esteja uma criança, ela possa acordar cada manhã. O macaco salta para a frente, nunca para trás. Que por esta oração eu seja abençoado e também a minha família.»
Toda a família está em silêncio, seguindo com atenção as palavras do chefe da família. Terminada a oração de intercessão, o ancião proclama uma série de exortações morais. Apela à unidade, à harmonia e à convivência em paz: «Há alegria na vida, não na morte. Viva quem oferece noz de cola e quem a come! Viva o tantã e muita felicidade para quem o toca. Deus, faz com que o meu inimigo conserve a vida: se não existisse, acaso lutaria com a erva? O meu inimigo é útil, porque, quando discuto, posso aprender coisas novas»!
O ritual matutino termina com a invocação final. O ancião proclama-a com solenidade. Pede vida e saúde para todos os presentes, e de modo particular para si mesmo, que é o chefe da família. Nesta oração, faz alusão à prece da lagartixa, a qual pode viver sem cauda, mas não sem cabeça.

Comida em comum
A noz de cola tem um valor simbólico. É um fruto que deve ser comido sempre em comum. Esta refeição pode acontecer numa família, onde todos se reúnem com os seus progenitores ou pode ser feita por toda a aldeia, que se junta ao redor do ancião para celebrar um acontecimento especial. Em qualquer dos casos, as nozes de cola são sempre distribuídas, partidas e partilhadas entre todos os presentes. Esta refeição em comum é símbolo da comunhão de bens, da fraternidade e do respeito recíproco.

A noz de cola
A cola é uma árvore da família das esterculiáceas, conhecidas na África ocidental por árvores de noz de cola. As suas folhas são ovais e persistentes. As flores são unissexuais ou poligâmicas, em forma de cálice, com cinco ou seis lobos. Os frutos são lenhosos e contêm de cinco a nove sementes, de sabor amargo, ricas em cafeína. São usadas como comida e também na medicina para despertar energias vitais.

(Fonte: Janela Cultural, abril 1999, Gianni Albanese) 

Postado por solicitação de Marilu Campelo

Noz de Cola
“Erva indispensável nos banhos dos filhos de Oxalá. Para o banho, rala-se a semente, o obi, misturando-se com água de chuva. A medicina popular indica esta erva como tônico fortificante do coração. É alimento destacado em face de diminuir as perdas orgânicas, regulando o sistema nervoso.”
(Fonte: Site Sol de Gaya)

8 de nov. de 2010

Oração de uma Iyawó

Oração de uma Iyawó

"Que a energia que habita em mim permita que eu mantenha sempre a cabeça baixa e os pés no chão, afim de manter a humildade. Que eu tenha sempre bons ouvidos, atentos para os ensinamentos daqueles que vieram antes de mim, meus orixás, meus ancestrais, meus mais velhos e fechados para o que não convém. Que eu possa ter o coração aberto para a experiência de ser omo orixá, mas principalmente a boca fechada, pra não levantar falso, não cometer injúria e não deixar que o sopro que sai de minha boca se contamine com palavras vãs.
Que meu ori mantenha esse compromisso todos os dias. Assim meu comportamento será digno de minha divindade e minhas ações respeitarão o deus vivo que há em mim."


Postado por solicitação de Guanayra Firmino 

Ogum

Ogum

Ancestral da cidade de Irê, Senhor do Ferro e da Guerra, também considerado na Nigéria como protetor da agricultura. Esta última concepção desaparece no Brasil, pois era impossível ao cativo solicitar boas colheitas para o Senhor de Escravos. Suas alegorias mais difundidas, a espada e algumas vezes a adaga, falam do seu aspecto guerreiro, enquanto a bigorna traz a memória o ferreiro que produz enxadas, pás, foices, frequentemente presentes em seus objetos simbólicos, mas também outros instrumentos originados do ferro, como o bisturi, que aludem alegoricamente ao divino ferreiro. Suas contas, algumas vezes de um azul profundo, também podem ser verdes, como os campos que ele cultiva.

Escultura em cerâmica: Carmem Barros (2003)

Exu

Exu

Primogênito da criação, encarregado da comunicação entre orixás e homens. Por seu aspecto brincalhão e risonho, foi erroneamente confundido com o diabo cristão, que em suas imagens antropomórficas, ostentam tridente, rabos e chifres. Em suas representações africanas, ostentam o falo, símbolo da procriação e do poder masculino que exaltam o aspecto relacional da figura de Exu. Suas contas, brancas, vermelhas e pretas, intercaladas, podem ser consideradas como símbolos do nascente – o branco –, o vermelho do poente, e o negro da noite, lugar dos mistérios e da magia. Laroiê Exu!

Máscara de pedras semi-preciosas incrustadas em dure pox: Autor desconhecido.

Xangô

Xangô

Historicamente, o segundo rei de Oyó, responsável pela hegemonia desta cidade nos períodos anteriores a colonização inglesa. Foi o responsável por inúmeros tratados e acordos diplomáticos, na maioria das vezes, culminados por casamentos que estreitavam as relações político-sociais. Dessa forma, os mitos que narram os consórcios deste herói civilizador com Oxum, Iansã e Obá, fazem parte dessa busca de união entre as cidades iorubás empreendida pelo soberano. Vários monarcas passaram a ostentar o título de Xangô em sua honra e o ritual denominado “A Roda de Xangô” fala desses inúmeros Alafim Oyó (Reis de Oyó), considerados como Orixás do Fogo. Suas contas, brancas e marrons, algumas vezes vermelhas, aludem a este elemento. Caô Cabiecile!

Escultura em cerâmica: Carmem Barros (2003)

Oxum

Oxum

Deusa da beleza, do ouro, da meiguice, Senhora protetora da maternidade e dos nascituros. Suas ferramentas e alegorias, douradas ou algumas vezes banhadas em ouro, falam do prestígio que esta Iyabá (Venerável Mãe) desfruta nas Casas-de-Santo. Dizem dela também que adora espelhos, jóias, perfumes e, muitas vezes, seus cânticos e danças mostram essa relação com a feminilidade e a sedução. Suas contas douradas ornam o busto altivo da Senhora dos rios, das fontes e das cachoeiras e suas roupas longas e requintadas lembram o fausto das cortes. Oraieieu!

Indumentária produzida pela Yalê da Casa (Mãe da Comunidade): Lucinha Pessoa (dez/2009)

Logun-edé

Logun-edé

É um dos odés, talvez o mais prestigiado deles. Este título, que ostentam os caçadores, a ele é aplicado como o mais jovem entre eles e, como todos, é um guardião das tradições e considerado o grande provedor dos orixás. São os caçadores que, nos grandes momentos de crise, alimentam a todos e, ao mesmo tempo, zelam pelos princípios e normas sociais. Filho de Oxóssi e Oxum, herda, no imaginário do povo-de-santo, as qualidades de seus genitores o gosto pelas jóias e o amor pelas regras e costumes. Suas contas azul-turquesa, como as de Oxóssi, são somadas às douradas de Oxum. Losi-losi... Looogun!

Máscara de pedras semi-preciosas incrustadas em dure pox: Autor desconhecido.

Oxumaré

Oxumaré

Patrono do arco-íris, príncipe dos voduns, senhor das serpentes. Considerado como orixá para alguns e vodun para outros, conferindo-lhe, portanto, uma identidade, ora iorubá, ora jêje. Suas danças, de rara beleza, são executadas ao ritmo do bravum, sincopado, de batidas fortes e que por vezes lembram o serpentear da Píton daomeana. Suas roupas, cujos tons múltiplos trazem inscritas as diversas cores surgidas da difração da luz do sol nas gotas da chuva ou do cristal que muitas vezes orna seus assentamentos simbólicos. Arroboboi!!!

Escultura em cerâmica: Carmem Barros (2003)

Iroko

Iroko

Muitos afirmam que o culto às arvores é uma das mais antiga expressões da religiosidade iorubá. Este gigante das florestas, venerável pela sua imponência, ocupa um lugar de destaque nas comunidades-terreiro, que podem abrigar sua majestosidade, capaz de, com suas profundas raízes, destruir construções. Dele também é dito que não é semeado, lembrando a sua origem divina e o seu papel de acolher os pássaros das grandes feiticeiras.  Seu poder é tão grande que a sua saudação, Eró!, significa "tenha calma!", procurando aplacar esta fonte de energia grandiosa e ancestral.

Escultura em cerâmica: Carmem Barros (2003)

Iaô

Iaô

Este termo implica em uma charada, que muitas vezes as línguas tonais, como o iorubá, apresentam. Ela pode significar iyawo – esposa – ou iya awo – mãe do segredo –, nomes atribuídos aos jovens iniciados nos mistérios das religiões negras.
Escultura em cerâmica: Carmem Barros (2003)

4 Elementos

Os quatro elementos da natureza e sua complementaridade

Água, fonte de energia e vida, morada das mães ancestrais, símbolo da maternidade, fecundidade e poder feminino.

Terra fecundada, origem da prosperidade e do bem-estar, fonte de desenvolvimento e estabilidade social.

Fogo, elemento da transformação, que possibilita a insurgência de novas formas de vida e reinício do eterno ciclo de renovação.

Ar, movimento initerrupto que provoca mudanças, como também é capaz de fertilizar todos os outros elementos, constituindo, dessa forma, a gênese.